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Num dia frio e chuvoso como este, resta a muitos de nós sentarmo-nos olhando a janela vendo a chuva cair. Com uma chálera de chá quente na mão, onde o seu bafo se eleva, misturando-se com o nosso, saindo morno dos nossos pulmões.
Não apetece fazer mais nada, depois de uma semana de trabalho, em que muito do que era permanece igual. Fica-se, a sonhar com coisas, muitas delas impossíveis, ou apenas a observar
A fazer um balanço da vida, das emoções, lutas e objectivos, do tempo que temos para viver, e o que gostariamos que ele fosse.
E no agitar lento daquela madeixa de cabelo que cai docemente para a nossa face, apercebemo-nos que até ele se modificou. Tal como nós o fazemos, diariamente. Como cada gota de chuva, que cai irregular, e quase nunca toca o mesmo sítio da superfície molhada, muitas vezes é também irregular o nosso percurso. E se por acaso distraída o faz, une-se àquela que já lá estava e juntas seguem, tão unidas como uma só.
Assim nós precisamos de aguém, que se nos reúna, como a gota pequenina de chuva, até se tornar um rio, ou imenso mar. Necessitamos disso, para seguir. Para nos ouvir e tão simplesmente amar.
Tal como a chálera, agora morna nos aquece as mãos, temos urgência de quem nos aqueça o coração. Quem nos enterneça, nos dê afeição.
E quando não existe ninguém capaz, ou quem o fazia já lá não está, não há nada que nos console e aí...nada mais nos resta que imitar o céu no seu choro e deixar consequentemente as lágrimas rolar.
E ao olharmos a chálera vazia, porque o seu líquido já se esgotou, só temos duas hipóteses.
Deixá-la lá, até que nos apeteça voltar a pegar-lhe para a limpar e a tornar utilizável. Ou fazê-lo logo, arregaçando as mangas e tratando dela, com afinco.
Assim é na vida. Podemos unicamente deixá-la passar, tendo medo de viver e deixando para depois. Ou agarramo-la, desfrutando-a ao máximo, apesar de dentro de nós não estar um lindo dia de sol.
As cicatrizes ficam
guardadas tanto na pele como
em mim.
São pequenos ferimentos
de batalhas travadas
sem o som do clarim.
As lágrimas, que rolaram livres
são irrecuperáveis.
Mas talvez engrossem o caudal
de um rio.
As pedras que trago no sapato
e que me fazem sofrer
não me causam tanto mal como outras...
Que carrego no peito
E transporto de fio a pavio.
As dores essas também arrecado
são exemplos de um passado
a não repetir
Mas as cicatrizes...essas
são coleccções de lágrimas, pedras
e dores, que teimam
em resistir
que não consigo apagar
Algo me diz que um dia
apesar de afastados
tu não poderás viver sem mim
Um dia ,esteja ele perto ou longe
tu serás obrigado
a voltar para mim.
Porque me embrenhei em ti
no teu corpo
na tua maneira de estar.
Algo me diz que nessa altura
não vais sossegar
porque não me deixas de amar
E se me enganar?
não vou querer lá estar.
À espera de não te ver chegar.
Se por acaso não vieres...
vai ser difícil compreender
que foi possível esquecer.
Mesmo assim algo vai ficar
e num dia qualquer
mesmo não querendo...
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