quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010


Sempre ouvi dizer que a solidão dói, machuca, fere profundamente.

Baseada nesse conceito, fico me perguntando o que é a solidão, além de se estar sozinho.

Porque não sinto as famigeradas dores, não sinto nenhum ferimento, apenas... o silêncio.

Ele me perturba e amortece meus sentidos, como se fosse uma droga paralisante, que me deixa impossibilitada de me mexer... não falo, não ando, não saio... apenas ouço.

Ouvir o silêncio... pode parecer impropriedade minha essa afirmação, mas não é.

Eu ouço o silêncio, e é ensurdecedor dentro de mim, o seu som.

Automaticamente, uma parte de mim procura lembranças de quando havia outros sons, além do silêncio.

Entro no túnel do tempo e vou passando por algumas portas que guardam lembranças tristes... paro em frente a um porta amarela, abro e vejo nitidamente o que aconteceu naquele dia: um casamento.


Era o dia do meu casamento... aquela roupa branca incomodava-me, os sapatos apertavam e eu sentia o suor correndo pelo meu corpo.

Alguém ajeitava o meu cabelo, e me provocava dores puxando-o com muita força. Ela colocou-me a grinalda e perguntou se estava bom.

Olhei no espelho e as lágrimas brotaram efusivas. Comecei a balbuciar palavras entre as lágrimas, como se um milagre pudesse levar aquelas palavras para onde deveriam ir.

Ela chegou perto de mim, tocou no meu rosto com suavidade e me perguntou o que estava acontecendo. Era minha irmã...


Tomada de súbita onda de coragem, falei intempestivamente, que não queria me casar, que queria voltar pra casa, com minha mãe, meu pai e meu irmão, não queria ficar ali.

Ela assustou-se e perguntou-me se a mãe sabia disso...

-Não, eu não tivera coragem de lhe falar, respondi.

Ela me disse para ficar calma, que ela ia falar com minha mãe, e saiu do quarto. Minha alma sorriu e eu esperei ansiosamente pelo escândalo que minha mãe faria, mas que eu estava agora, pronta para enfrentar.


Eu odiava aquele lugar, aquelas pessoas eram-me hostis, e meu noivo... não importa, eu queria ir embora, jamais me casaria.

Mas o tempo passou... os ponteiros do relógio batiam tão forte, como se fossem monstros se aproximando para me devorarem, e de repente a porta se abriu.

Mas não era minha irmã, nem minha mãe. Elas tinham ido na frente, foi o que me disseram. O carro do padrinho me levaria. Senti meu coração murchar, como se ele fosse um balão de gás, onde alguém tivesse encostado uma agulha.

Eu quis gritar, chorar, fugir...mas não tive coragem.


Minha irmã me traiu... foi uma das muitas vezes em que ela me traiu.

Não senti ódio, apenas dor. Até aquele dia, era a pior dor que eu já havia sentido. Lembro-me que no trajeto para a igreja, ocorreu-me que aquilo que eu estava sentindo, era o que sentiam as pessoas que são condenadas a morrerem na cadeira elétrica. E de repente lembrei-me que eu ia continuar viva, portanto ainda tinha uma chance de escapar de tudo aquilo, no futuro.

Senti uma alegria quase incontida ao pensar nisso, e decidi cumprir minha sentença com louvor. Já que faltara-me coragem para desistir, era preciso ter dignidade e postura, ser uma noiva que despertasse orgulho, principalmente para minha mãe. Eu não podia decepcioná-la... e não decepcionei. Meu "sim" soou quase tão sonoro quanto é o som desse silêncio dentro de mim, agora. Eu pude ouvir-lhe até o eco...

E depois os cumprimentos, fotos, festa... tudo muito lindo e feliz.

Até eu, quase acreditei naquela felicidade...


Volto-me para a porta entreaberta, agora... é melhor voltar para o meu silêncio. O que veio a seguir, naqueles dias trôpegos do meu casamento cambaleante, foi muito mais triste e mais dolorido do que qualquer solidão, talvez por isso eu me recuse a senti-la, ou pelo menos a identificá-la. Meu casamento durou três longos meses...

Eu só preciso de algum barulho, mesmo que seja o do mar.


Mas hoje, o mar está quieto... vai ver estão obrigando-o a se casar... quem sabe...

Eu, apesar do silêncio, sinto-me feliz, quase feliz.








É proibido chorar sem aprender,
levantar-se um dia sem saber o que fazer,
ter medo de suas lembranças.


É proibido não rir dos problemas,
não lutar pelo que se quer, abandonar tudo por medo,
não transformar sonhos em realidade.


É proibido não demonstrar amor,
fazer com que alguém pague por tuas dúvidas
e mau-humor.


É proibido deixar os amigos,
não tentar compreender o que viveram juntos,
chamá-los somente quando necessita deles.



É proibido não ser você mesmo diante das pessoas,
fingir que elas não te importam, ser gentil só para que
se lembrem de você, esquecer aqueles
que gostam de você.


É proibido não fazer as coisas por si mesmo,
não crer em Deus e fazer seu destino, ter medo da vida
e de seus compromissos, não viver cada dia como
se fosse um último suspiro.


É proibido sentir saudades de alguém sem se alegrar,
esquecer seus olhos, seu sorriso, só porque seus caminhos se
desencontraram, esquecer seu passado
e pagá-lo com seu presente.


É proibido não tentar compreender as pessoas,
pensar que a vida delas valem mais que a sua,
não saber que cada um tem seu caminho e sua sorte.


É proibido não criar sua história,
deixar de dar graças a Deus por sua vida, não ter um momento
para quem necessita de você, não compreender que o que
a vida te dá, também te tira.



É proibido não buscar a felicidade,
não viver sua vida com uma atitude positiva,
não pensar que podemos ser melhores, não sentir que sem você
este mundo não seria igual. (PABLO NERUDA)

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