quarta-feira, 30 de setembro de 2009


Já vivi muito... muito de muito e muito de nada...Uma vida farta de nada e vazia de tudo... uma vida repleta de tanto na verdadeira imensidão do intenso, do abundante...Já vivi sem ter sentido e já senti cuidando não ter vivido...Já me apaixonei muitas vezes... Já me apaixonei por gestos, por sorrisos, por lágrimas... Já me apaixonei pelo verdadeiro, pelo inato, por âmagos não moldados...Tudo o que é artificial, ajustado, abomino. Tudo quanto é genuíno e expressado com despretensão, apaixona-me...Já fui tanto e tão pouco... Já fui de tudo um pouco... Já senti e vivi todas as sensações que um ser humano pode experimentar: já ri às gargalhadas até chorar de tanto rir; já chorei de pena; já chorei de morte; já chorei de alegria ao trazer um filho ao mundo...Já sorri em vez de chorar, enganando o choro e enganando-me a mim... Já sorri pela felicidade do retorno dum sorriso...Já sofri, sofrer de dor profunda, de dor intrínseca e enraizada... Já sofri sem saber porquê...Já amei e amo... amor de amor, de dar sem pedir nem esperar… amor de filha, amor de irmã, amor de mãe, amor de mulher...Já pedi, já implorei, já me humilhei... e de joelhos já supliquei...
Já caí vezes sem conta... já me levantei na certeza, porém, de voltar a cair... para de novo me reerguer...Já corri até ficar sem fôlego e já corri em passos lentos sem sair do lugar ao sabor da vida e dos demais...Esperar? Já esperei, desesperei... Hoje já não espero... a vida é uma espera constante e de tão constante ser, passou à certeza do certo... e o que é certo não é esperado...Já quis ser e não fui e já fui o que não quis ser nem ambicionei... Já quis e não quis sem saber qual o querer...Já dei pelo prazer de dar e já recebi sem esperar receber...Já acreditei sem questionar e já questionei sem querer saber o porquê...Já julguei sonhar acordada, mas os sonhos não existem... os proclamados de sonhos são meramente as vontades, os anseios não realizados... porque é tão mais fácil falar de uma utopia do que querer, lutar por concretizar o desejo... o sonho é o unívoco do querer e só deixará de ser sonho se houver vontade de querer e fazer...Já olhei com olhos de ver, já julguei ver o que os olhos não viram e já olhei para o escuro e vi o que os olhos pensaram não ver...Já fui abençoada com pessoas boas de índole pura, amantes da vida, do amor e do próximo...Já cruzei com entes estranhos, ficcionando vidas que não são as suas ou não as podem ter, conjecturando realidades díspares das suas naturezas… perdidos sem quererem ser achados...Já cruzei com a mentira, com a falsidade, aquela a que engana, atraiçoa, que não tem começo nem fim, que dilacera, aguilhoa com desdém, até com contornos de perversidade...Já cruzei com a sinceridade e com aqueles que se dizem “demasiado sinceros” também... com a sinceridade que inunda a alma e me faz crer na vida e nas pessoas... àqueles que se dizem “demasiado sinceros” apelido-os de embustes do ser humano... não existe demasiado sincero, ou se é sincero ou não se é. A sinceridade só tem um peso e uma medida...E hoje, que tenho hoje? Uma vida que me sorri e me envolve com os seus ensinamentos de todo um percurso caminhado perscrutando, observando e apreendendo todos os possíveis meandros, cantos e recantos do ser humano, em prol da felicidade... a minha felicidade e a dos meus...Que retive da vida que passou por mim e da vida que agarrei de rédeas nas minhas mãos?Aprendi que o amor se constrói, se edifica com o saber, com a coragem, a força, a luta diária, o acreditar, o dar e voltar a dar e se mais for necessário, novamente dar...Que a felicidade nos pertence, que nasceu no dia em que nascemos, que é uma dádiva adquirida à nascença, que vive dentro de nós desde sempre... que emergirá e nos fará sorrir e dizer que experimentámos a felicidade, se e só se tivermos a capacidade de lutar e o querer de querer ser feliz...

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